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Pessoas & Gestão

IBA Paris 2023: Desafios e oportunidades como diretor jurídico

O painel foi composto pelos experts Hans Albers, Barton Selden, Andrew Wigfall, Caroline Conrad-Behr e Asma Muttawa

No terceiro dia de IBA, uma das conferências que ocorreu foi a dos experts Hans Albers, Barton Selden, Andrew Wigfall, Caroline Conrad-Behr e Asma Muttawa, que discutiram os desafios e oportunidades da atuação do advogado como diretor jurídico de “primeira viagem”.

Conrad-Behr pontuou  que passou anos em um escritório de advocacia antes de passar para in-house de uma empresa familiar. Ela afirma que conhecer a empresa intimamente deve ser o primeiro objetivo inicial, ter conversas densas, aprender e conhecer as pessoas que você vai trabalhar ao lado. Segundo ela, criar relacionamentos de confiança é essencial para que as pessoas se sintam confortáveis de te procurar quando tem um problema. O suporte jurídico deve ser próximo e realista.

Albers afirma que esse, de fato, é o principal ponto. Ele salienta ainda que conhecer os shareholders também seria primordial.

Na sua experiência, passar da prática privada para um papel de diretor jurídico é desafiador pela diferença de atuação. Segundo ele, a primeira tarefa que você deve abrir mão, é o hábito de dizer “não”, você pode e deve falar não, mas também deve oferecer soluções. Ele afirma que o diretor jurídico não é só o legal advisor do board, mas parte dele, jurídico é parte do time, é um braço da empresa, então o diretor também tem responsabilidade sobre outras áreas.

Diretores jurídicos tem tido responsabilidade sobre ESG, por exemplo, o que é controverso, porque isso torna o ESG um problema legal da empresa, o que não é realmente verdade – ESG é uma questão de todos os departamentos. O lado positivo é que, o diretor jurídico, mais do que nunca, tem uma cadeira na mesa, em 80% dos casos, os diretores jurídicos reportam diretamente para seus CEOs.

Muttawa afirma que o conhecimento de toda cadeia produtiva também é essencial, você pode falar sobre compliance, análise de risco, mas os executivos não querem realmente saber disso, eles querem falar de objetivos diretos na empresa.

Com background em uma organização global da indústria de óleo e gás, ela notou que seu papel se tornou bastante estratégico quando seu trabalho se tornou orientado diretamente aos objetivos comerciais de cada país membro da organização. Pelas diferenças de interesse internacional, seu trabalho se tornou muita mediação e negociação.

Ela afirma que esse é o ponto, interesse individual e coletivo, saber falar e entender o que cada lado quer e ser capaz de atingir uma decisão, um consenso, por interesse nacional e internacional no mercado energético, uma vez já ciente do contexto de cada uma das partes. Quando você sabe as posições, você elabora as propostas e as apresentam. Outro lado muito positivo para ela, é conhecer pessoas do mundo inteiro, trabalhando em um contexto de uma empresa multinacional, apesar de também ser um desafio na parte de cultura.

Conrad-Behr trouxe também o ponto que a análise de risco é um dos principais olhares que o diretor jurídico deve ter. Empresas estão muito mais dispostas a tomar riscos do que o jurídico, então analisar estrategicamente quais riscos valem a pena ser tomados ou não.

Para Selden, isso é controverso, porque o advogado pensa que ser estratégico é apenas apontar os riscos, por uma diferença de background com um executivo. Para ele, alinhar a linguagem do que significa ser estratégico é essencial. Albers comenta que atuar em outro papel fora do legal de uma empresa também é um diferencial, porque te dá uma visão totalmente diferente do negócio e te auxilia nesse papel.

Wigfall trouxe para o painel o conceito de que o diretor jurídico seria o custodiante do risco de uma empresa. Para ele, o diretor jurídico é responsável por gerenciar o risco, mas não necessariamente identificá-lo.

Para Albers, gerenciar e auditar o risco não é papel do jurídico, porque há experts focados tão somente nisso. Caroline concorda com essa posição, ela afirma que o jurídico é um papel de suporte, braço da empresa. Ela afirma que é importante olhar para os riscos, mas ter responsáveis apenas em auditar é necessário para que o jurídico seja mais estratégico, e não focado apenas nessa atuação, na sua visão, o papel do diretor jurídico é assessorar a empresa sobre esse risco, mas não o identificar ou gerenciar, porque não é tão preto e branco. Há ponderações e balanceamento e nesse ponto é onde se agrega o valor, trazendo alternativas, ângulos. Isso é ser estratégico, trabalhar nessa faixa de alcance.

Albers aponta que essa é a diferença entre o risco material e o risco imaterial. O diretor jurídico não pode levar todas as legislações e regulamentos de forma literal, porque isso enseja gastos desnecessários. Conrad-Behr concorda com essa posição, afirmando que olhar para o “bigger Picture” sempre vai ser o mais estratégico, pois é nesse horizonte que você pode identificar quais riscos são reais ou não, mas sempre dentro dos limites éticos inerentes a profissão.