Nesta sexta-feira, dia 28 de junho, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. A data marca os 55 anos da Batalha de Stonewall, quando pessoas da comunicade LGBT+ se levantaram em um protesto contra a violência policial em Nova York – episódio que se tornou um marco na luta por direitos civis.
A data traz também um momento de reflexão e questionamentos sobre o panorama dos direitos da população LGBT+ em diversos países.
“Ao refletir sobre o estado atual dos direitos LGBTQIAPN+, sinto uma mistura de orgulho pelo progresso que fizemos e de urgência para continuar a luta. É inspirador ver jovens LGBTQIAPN+ crescendo em um mundo onde podem ser mais autênticos e visíveis. As redes de apoio e as comunidades online oferecem espaços de pertença e solidariedade que são inestimáveis”, analisa Anelise Doumid Damasceno, sócia Trabalhista e Head DE&I do Andrade Maia Advogados.
Nesta entrevista especial, a sócia fala sobre sua trajetória como uma pessoa pertencente à comunidade LGBT+ e os impactos de sua orientação sexual dentro do mercado jurídico.
“Revelar minha orientação sexual exigiu uma cuidadosa avaliação de segurança e o grande medo da não aceitação, algo que colegas não LGBTQIAPN+ raramente precisam considerar no ambiente de trabalho”, conta a advogada. “A cultura de conservadorismo que prevalece em muitos escritórios de advocacia e tribunais pode criar um ambiente hostil ou, no mínimo, desconfortável para aqueles que não se conformam com normas heteronormativas”, completa.
Confira a entrevista completa:
Nesta sexta-feira, dia 28 de junho, se celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. O que há para se comemorar?
No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, temos que celebrar o progresso nos direitos, um maior reconhecimento e visibilidade das pessoas LGBTQIAPN+. A data também reforça a importância da comunidade e do apoio mútuo. Para muitos, é um momento de encontrar solidariedade e força em meio a adversidades. As celebrações do Orgulho são oportunidades para fortalecer laços e promover a inclusão e o respeito em todos os aspectos da vida.
O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ é, portanto, uma celebração do que foi conquistado e um lembrete dos desafios que ainda permanecem. É um convite a todos – LGBTQIAPN+ ou aliados – para continuar a avançar em direção a um mundo mais justo e inclusivo.
Confira as outras entrevistas da série:
- Silas Cardoso de Souza, sócio do VMCA Advogados
- Luciana Martorano, sócia do Campos Mello Advogados
- André Filipe Kend Tanabe, sócio do Davi Tangerino Advogados
- Lorena Borges Botelho, sócia do Peck Advogados
- Luciano Inácio de Souza, sócio do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados
- Renato Valença, sócio do Martins Villac Advogados
- Marcel Fracarolli Nunes, sócio do Trench Rossi Watanabe Advogados
Celebrar o Orgulho LGBT+ em 28 de junho é reconhecer a trajetória de luta, celebrar a diversidade e renovar o compromisso com a igualdade e o respeito para todos. É uma data para abraçar quem somos, apoiar uns aos outros e continuar a trabalhar por um futuro em que todas as pessoas possam viver com dignidade e amor, independente de quem são ou de quem amam.
Qual sua percepção sobre o atual panorama de direitos LGBT+?
Vejo o panorama atual como um misto de celebrações de conquistas importantes e de contínuos desafios. Vivemos em um período em que a visibilidade e a aceitação da comunidade LGBTQIAPN+ aumentou significativamente, mas ainda existem barreiras a serem superadas.
Nos últimos anos, testemunhei avanços notáveis no reconhecimento e na proteção dos direitos LGBTQIAPN+. A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em muitos países foi um marco de igualdade e amor. Além disso, a legislação contra a discriminação tem sido fortalecida em várias partes do mundo, oferecendo um escudo legal contra o preconceito em locais de trabalho, escolas e serviços públicos.
A representação LGBTQIAPN+ na mídia e na cultura popular também deu grandes passos. Ver personagens LGBTQIAPN+ em filmes, séries e literatura, não apenas como estereótipos, mas como indivíduos complexos e autênticos, é uma grande vitória. Isso não só valida nossas experiências como também educa a sociedade sobre a diversidade de nossas vidas e desafios.
Ao refletir sobre o estado atual dos direitos LGBTQIAPN+, sinto uma mistura de orgulho pelo progresso que fizemos e de urgência para continuar a luta. É inspirador ver jovens LGBTQIAPN+ crescendo em um mundo onde podem ser mais autênticos e visíveis. As redes de apoio e as comunidades online oferecem espaços de pertença e solidariedade que são inestimáveis.
Por outro lado, ainda há um longo caminho a percorrer, muitas pessoas LGBTQIAPN+ enfrentam discriminação, exclusão e violência. Em alguns países, ser quem somos ainda é criminalizado, colocando nossas vidas e liberdades em risco.
Em lugares onde os direitos são reconhecidos, ainda lidamos com a marginalização e a falta de compreensão. A crise de saúde mental é uma questão urgente na comunidade LGBTQIAPN+, assim como as questões como a vulnerabilidade econômica e a falta de acesso adequado a cuidados de saúde específicos para pessoas trans continuam a ser áreas críticas de necessidade.
Quais foram os seus principais desafios profissionais como uma pessoa LGBT+?
Como pessoa LGBTQIAPN+, um dos principais desafios profissionais que enfrentei foi a invisibilidade da minha orientação sexual e a real falta de inclusão no ambiente de trabalho, pois precisei, antes de ingressar no Andrade Maia, esconder minha orientação sexual, por muitos anos, por medo e preconceito claramente existente no meio jurídico.
Revelar minha orientação sexual exigiu uma cuidadosa avaliação de segurança e o grande medo da não aceitação, algo que colegas não LGBTQIAPN+ raramente precisam considerar no ambiente de trabalho. A pressão constante para “se encaixar” ou “passar despercebido” pode ser exaustiva e emocionalmente desgastante. Embora existam avanços em muitas organizações, preconceitos ainda estão enraizados, e muitas vezes se manifestam de formas sutis e insidiosas. Desde piadas inapropriadas até a exclusão de oportunidades de crescimento, a discriminação pode ser uma barreira invisível, mas potente.
Quais são as particularidades para profissionais LGBT+ no mercado jurídico?
O mercado jurídico, com sua tradição de formalidade e conservadorismo, apresenta desafios a todos os grupos minorizados, incluindo os profissionais LGBTQIAPN+, a cultura de conservadorismo que prevalece em muitos escritórios de advocacia e tribunais pode criar um ambiente hostil ou, no mínimo, desconfortável para aqueles que não se conformam com normas heteronormativas.
A falta de representatividade e de políticas inclusivas é um obstáculo significativo. Em muitos escritórios de advocacia há uma escassez de modelos LGBTQIAPN+ em cargos de liderança ou de visibilidade, o que pode desincentivar a transparência sobre a orientação sexual ou identidade de gênero. Isso também afeta a percepção e o acesso a oportunidades de progressão na carreira.
Para pessoas trans e não-binárias, as barreiras podem ser ainda mais altas, com desafios adicionais relacionados à aceitação de nomes e pronomes corretos e ao respeito pelos processos de transição de gênero. As políticas de inclusão frequentemente carecem de clareza ou são implementadas de maneira inconsistente, deixando muitos profissionais LGBT+ sem o apoio necessário para prosperar. Essa falta de representatividade e apoio cria um ciclo de invisibilidade e sub-representação que perpetua a marginalização.
No entanto, é encorajador notar que algumas áreas do direito estão se tornando progressivamente mais inclusivas. Advogados que se especializam em direitos humanos, direito de família, e direitos LGBTQIAPN+ têm feito avanços significativos ao promover a inclusão e defender os direitos de suas comunidades.
Além disso, é importante ver que os escritórios de advocacia estão começando a adotar políticas de diversidade e inclusão mais robustas, reconhecendo os benefícios de um ambiente de trabalho diversificado e inclusivo. Para mim, ver essas mudanças é tão inspirador quanto motivador. Elas mostram que, mesmo em um campo tradicional como o direito, é possível avançar em direção a um futuro mais equitativo e inclusivo. E, enquanto há muito a ser feito, cada pequeno passo cria um impacto significativo na vida de profissionais LGBTQIAPN+ e na sociedade como um todo.
Como o Andrade Maia Advogados trata temas de diversidade? Existem políticas específicas para grupos minoritários?
O Andrade Maia Advogados, desde sua fundação, valoriza a diversidade e a ambição de promover um ambiente inclusivo e representativo, que desde então, esteve presente como cultura e é um dos valores do escritório.
Em 2019 iniciamos uma jornada intencional, organizada e mais profissionalizada de ações inclusivas e fundamos a Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). A Comissão segue uma sólida política de governança e é conduzida por sócios, liderada por mim como head DE&I e amplificada pelos nossos grupos de afinidade formados por integrantes do escritório. Em 2019 iniciamos uma jornada intencional, organizada e mais profissionalizada de ações inclusivas e fundamos a Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). A Comissão segue uma sólida política de governança e é conduzida por sócios, liderada por mim como head DE&I e amplificada pelos nossos grupos de afinidade formados por integrantes do escritório.
Desde a fundação da comissão, nos empenhamos fortemente em promover uma cultura de inclusão, respeitando e valorizando as diferenças individuais, experiências e perspectivas de nossa equipe. Nosso compromisso com diversidade e inclusão abrange todas as áreas de nosso escritório, desde o recrutamento e seleção até as políticas de desenvolvimento profissional e a promoção de um ambiente inclusivo e oportunidades equitativas.
A partir de 2021, estruturamos um planejamento em diversidade para ampliar e fortalecer a atuação da comissão, o qual foi dividido em 4 principais pilares: educação, gestão e governança, métricas e parcerias e solidariedade.
Em 2022 iniciamos uma fase com mais maturidade e ambição, iniciamos a construção de uma política de DE&I e planejamento para os Grupos de Afinidade – divididos em 5 temas: LGBTQIAPN+, gênero, raça, pessoas com deficiência (PCD) e geracional – dois importantes passos no nosso compromisso na construção de um escritório cada dia mais diverso.
E, em 2024, o lançamento da nossa Política de Diversidade com diretrizes e regras sólidas para além de direcionar as ações do escritório, incluindo, licença parental, apoio psicológico para transição de gênero, ambiente seguro, programas de desenvolvimento, entre várias outras ações afirmativas.