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Top Decisores

'A questão da liderança feminina é fundamental para o escritório'

Paula Surerus é a managing partner do Veirano Advogados, que ocupa a 8ª posição no Top Decisores: Managing Partners 2024. Na entrevista, ela fala sobre ser uma das poucas mulheres à frente das principais bancas do país.

Você é uma das poucas mulheres liderando escritórios de grande destaque no mercado brasileiro. A que você atribui este fato?

Assumir a liderança de uma das maiores bancas do Brasil requer muito comprometimento, e acredito que minha vontade de alcançar sempre patamares mais altos foi um diferencial. Sou inquieta e busco sempre estar em contato com o mercado, ouvir a academia e aprimorar minhas habilidades, sobretudo as soft skills. Compor a liderança do Veirano é uma enorme responsabilidade, mas me traz muita felicidade ao transpor desafios e alcançar novas conquistas com meus sócios, que muito me apoiaram em minha trajetória.

‌Penso também que a habilidade que mais contribuiu para esse feito é a máxima que busco aplicar em todos os meus relacionamentos: a importância do diálogo e de construir parcerias fortes. Aqui, inevitavelmente, falamos também de empatia. Essa escuta ativa e o exercício da alteridade, quando combinados, são elementos fundamentais para uma boa liderança.

‌Acredito que o mais importante seja a competência, o espírito de equipe e o comprometimento com entregas de qualidade. Busco sempre a excelência em cada etapa do trabalho. No entanto, nada disso seria possível sem o apoio e a colaboração do time Veirano. O trabalho em equipe é essencial para o sucesso de qualquer projeto, especialmente quando contamos com uma equipe diversa e competente. Assim, conseguimos alcançar resultados excepcionais.

‌Existe também a responsabilidade institucional do escritório como incentivador de lideranças femininas. Estar, enquanto mulher, em ambientes majoritariamente masculinos é desafiador. Por vezes, nós, mulheres, precisamos nos fazer ser ouvidas e respeitadas. No Veirano, promovemos uma cultura de impulsionarmos umas às outras. Como dizemos, ‘uma sobe e puxa a outra’, em referência a um livro muito marcante da minha trajetória. Então, sem dúvidas, o posicionamento do Veirano foi um diferencial.

‌Acho que isso diferencia a gestão do Veirano de outras grandes bancas: o compromisso genuíno na promoção da diversidade. Isso sempre esteve evidente para mim, e assumi a função com muita determinação e entusiasmo.

O Veirano é citado como líder em três áreas de prática na Leaders League. Em dois destes rankings – Telecomunicações e Comércio Internacional – as lideranças citadas são totalmente femininas. Como é a política de diversidade e incentivo à promoção de mulheres no escritório?

‌A questão da liderança feminina é fundamental para o escritório, e temos um amplo histórico de iniciativas nesse campo. Desde 2018, somos comprometidos com os Princípios de Empoderamento das Mulheres, elencados pela ONU. Em 2021, instauramos uma política de inclusão feminina na alta liderança, garantindo vagas para mulheres no Conselho de Administração e no Comitê Gestor, hoje composto por mim, como Sócia Gestora, pela Diretora Executiva Priscila Orsi e pelo sócio Marcelo Reinecken.

Entre 2021 e 2022, promovemos o Programa de Mentoria Feminina para advogadas sêniores, com foco na alavancagem de carreira e preparo para a sociedade. Como resultado dessa aceleração, cinco participantes da iniciativa alcançaram a sociedade nos dois anos seguintes, sendo essa uma das ações fundamentais no fomento da nossa cultura de diversidade. Nosso cenário atual conta com 30% de sócias, número acima da média do mercado, mas estamos sempre em busca de aumentar esse índice. Para isso, mapeamos projetos e ações diversas, como a recente adesão ao “Elas Lideram 2030”, movimento da ONU que visa levar 11 mil mulheres à alta liderança. Hoje, elas compõem 100% das nossas gerências administrativas e são 58% do time Veirano.

‌No caso das áreas em que somos líderes na Leaders League, temos uma forte presença feminina e, duas dessas áreas, são lideradas por mulheres. Esse movimento de sócias na alta liderança, por sua vez, impulsiona ainda mais outras mulheres. Por aqui, costumamos falar que ‘uma sobe e puxa a outra’, em referência à obra (e atuação) de Natasha Castro. Acredito que nosso diferencial é ter uma liderança engajada e foco claro em realmente executar iniciativas que impactam as carreiras das mulheres que fazem parte do nosso time.

‌Entendemos que essa é uma conversa que precisa avançar no jurídico, por isso o diálogo com outras bancas e instituições do setor é fundamental. Com esse propósito, somos também um dos cofundadores da Aliança Jurídica pela Equidade de Gênero, que visa a troca de informações, ações e programas que deem maior visibilidade e exposição para as mulheres no mercado jurídico, atuando ainda na ampliação de networking e boas práticas entre os escritórios.

‌Por fim, recentemente lançamos nosso primeiro Relatório de Sustentabilidade, que traz a agenda da equidade de gênero no Veirano como parte do nosso compromisso de valorização das pessoas, contribuindo para nossa cultura diversa e sustentável.

Quais os principais desafios na advocacia atualmente?

A prática jurídica tem seus desafios próprios do dia a dia, mas o cenário em que os grandes escritórios de advocacia se encontram hoje, organizados cada vez mais como grandes empresas, exige uma abordagem holística e inovadora para superar os desafios do mercado de trabalho como um todo.

Acredito que o principal desafio da profissão tem sido equilibrar a utilização de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial Generativa, com o aspecto humano. Habilidades essencialmente humanas, como a criatividade, o pensamento analítico, a sensibilidade e a capacidade de dialogar, inovar e colaborar são aspectos inegociáveis para a advocacia.

Isso também é marcado pelo conflito geracional existente no mercado hoje. Enquanto a geração Z já nasceu imersa em tecnologia e a utiliza com naturalidade, ainda enfrentamos alguma resistência quanto ao uso dessas ferramentas no trabalho por pessoas mais velhas. Existe uma desconfiança quanto à confiabilidade das informações, ao tratamento dos dados e, é claro, um possível medo de as máquinas substituírem o trabalho humano. No operacional, elas têm muito a acrescentar para otimizar processos e tempo. Mas a capacidade analítica e criativa, somente nós temos.

‌Outro aspecto que destaco, também influenciado pela mudança do paradigma geracional no mercado de trabalho, é a saúde mental. Hoje, falamos muito mais sobre o assunto do que quando eu fui estagiária, e esse movimento veio fortemente motivado pelos mais jovens. Os novos talentos do mercado buscam empresas que possuem políticas de promoção da saúde mental e que apresentam jornadas de trabalho factíveis, pois o foco é ter vida além do trabalho. Se a empresa almeja continuar inovando e retendo os melhores talentos, é imprescindível estar atenta às demandas do mercado para oferecer práticas atrativas às novas gerações, que são o futuro de todas as organizações.

E quais principais pontos de inovação podemos esperar do escritório para os próximos períodos?

Há anos, nosso escritório se preocupa em liderar iniciativas inovadoras no mercado jurídico. Recentemente, alcançamos marcos significativos em tecnologia e inovação, fortalecendo nossas operações e garantindo maior segurança e eficiência em processos. Assim, já automatizamos boa parte do trabalho operacional, deixando a parte analítica e criativa para a expertise humana. Além disso, já implementamos a inteligência artificial em nossa rotina e estamos constantemente estudando novas formas de inserir essas ferramentas para auxiliar o trabalho de nosso time, com foco em favorecer a troca de ideias e aplicá-las para facilitar os nossos processos.

‌Assim, para o futuro, podemos esperar maiores investimentos em tecnologias, mas sempre acompanhados de investimentos em capacitação para nossas pessoas. Entendemos que inovar vai além de aplicar o que há de mais novo em tecnologia, mas também engloba estar por dentro das principais pautas pertinentes aos nossos colaboradores, parceiros e clientes e acompanhá-los em suas necessidades. Então, vemos um potencial inovador também através dos nossos planos de Diversidade & Inclusão, pois estamos verdadeiramente comprometidos com o acolhimento a grupos plurais, sobretudo porque entendemos que assim, acrescentamos criatividade e ideias novas para superar desafios.

 

Veja também:

Top Decisores: Managing Partners 2024: Parte 1

Top Decisores: Managing Partners 2024: Parte 2

Top Decisores: Managing Partners 2024: Parte 3

Top Decisores: Managing Partners 2024: Parte 4

Top Decisores: Managing Partners 2024: Parte final