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Pessoas & Gestão

Gerindo a Geração Z nos escritórios de advocacia

O artigo possui autoria da advogada e sócia do Tourinho Leal Drummond de Andrade Advocacia, Cínthia Leite

A chegada da Geração Z ao mercado de trabalho trouxe novas questões para as organizações. Nascida entre meados dos anos 90 e 2010, essa veloz geração cresceu conectada, o que molda suas expectativas e comportamentos profissionais. Sua presença exige adaptações na liderança para atrair e garantir engajamento e eficiência.

Os avanços tecnológicos estão revolucionando o campo jurídico rapidamente. Os sistemas de automação de processos, inteligência artificial para análise de documentos e plataformas de gestão jurídica são cada vez mais presentes.

Também por essa razão, os escritórios têm o desafio de recrutar e capacitar jovens advogados para analisar dados de forma mais abrangente, agregando valor estratégico ao cliente. Contar com recursos como Legal Analytics para antecipar prognósticos sobre sentenças com base em grandes volumes de dados não é o bastante.

Mas não é só. Nos locais de trabalho há colaboradores de diversas faixas etárias que possuem expectativas e estilos de trabalho variados. Enquanto profissionais mais experientes na advocacia tendem a preferir encontros presenciais e um fluxo mais tradicional de atividades, a nova geração aprecia a liberdade e as ferramentas digitais.

Profissionais da Geração Z procuram propósito no trabalho, desejam ser escutados e apreciados. A busca constante por desafios e desenvolvimento profissional acelerado acaba desaguando em um turnover elevado. Modelos de hierarquias inflexíveis podem afastá-los. A retenção da Geração Z exige um novo olhar sobre a cultura organizacional, no qual feedback constante, uso de tecnologia e flexibilidade são elementos essenciais para a satisfação desses profissionais.

Considerando as características e o tamanho do escritório em questão, adotar uma estratégia de trabalho misto para atender às necessidades de flexibilidade da equipe mais jovem e ao mesmo tempo manter um programa de mentoria presencial com os sócios mais experientes, visando fomentar uma integração entre diferentes gerações, costuma ser algo eficiente.

As gerações mais jovens esperam uma formação que não se restrinja à teoria, sendo de suma importância incluir habilidades práticas e interpessoais no processo de aprendizado, algo que pode ser feito por meio de programas contínuos de desenvolvimento. Workshops e outras iniciativas igualmente dinâmicas sobre temas como negociação, comunicação oral eficiente, escrita persuasiva e gerenciamento do tempo ajuda os advogados a se prepararem para desafios práticos que serão definitivos em suas carreiras.

A Geração Z quer reconhecimento. Implementar programas que ofereçam incentivos aos advogados por atingirem seus objetivos individuais e coletivos e estabelecer “comitês de inovação”, nos quais os advogados em início de carreira podem apresentar sugestões para melhorias são exemplos de estratégias que promovem o envolvimento e incentivam o comprometimento. Para engajar a Geração Z, é fundamental criar um ambiente de trabalho dinâmico, que permita experimentação, inovação e aprendizado contínuo. A ausência desses fatores pode resultar em desmotivação e alta rotatividade.

Equipes plurais são fundamentais para impulsionar novas ideias e ampliar o alcance do escritório para atender uma clientela diversificada com eficiência e criatividade. Isso vai muito além da diversidade comumente praticada; inclui diferentes vivências e habilidades que enriquecem as perspectivas individuais e coletivas. Atualmente é essencial que os profissionais pensem e ajam “fora da caixa”. Por meio do trabalho em equipe envolvendo diversas habilidades, vivências, perspectivas e disciplinas é possível desenvolver soluções ainda mais criativas e efetivas.

Profissionais iniciantes precisam de líderes que os motivem e ajudem a crescer profissionalmente. A orientação é fundamental para alinhar objetivos e aprimorar competências neste cenário.

Como sugestão, é possível pensar no conceito de “mentoria compartilhada”, no qual um profissional sênior orienta um colega mais jovem em iniciativas estratégicas, em busca de desenvolvimento mútuo por meio do intercambio de conhecimentos. A comunicação com a Geração Z exige autenticidade e transparência. Esses profissionais valorizam diálogos diretos, feedbacks frequentes e um ambiente em que possam expressar suas opiniões sem barreiras hierárquicas rígidas.

Outro fator muito valorizado pelas gerações que estão entrando no mercado de trabalho é o equilíbrio saudável entre a vida pessoal e o trabalho. Estas priorizam a melhoria da qualidade de vida, e os locais de trabalho que não levam isso em consideração podem enfrentar problemas com a alta rotatividade de colaboradores.

Há ainda mais sutilezas que apenas um exame cuidadoso e sensível é capaz de perceber. As gerações mais jovens procuram empregar-se em empresas que apoiam causas socioambientais. Isso é evidente tanto na atração de talentos quanto na reputação da empresa no mercado de trabalho, tendo em vista a alta demanda por empresas socialmente responsáveis. Uma opção de caminho a ser seguido nas ações cotidianas da empresa, por exemplo, é adotar um programa interno de sustentabilidade.

A chegada da Geração Z ao mercado de trabalho exige do gestor uma adaptação em como gerir e liderar equipes, revendo modelos tradicionais e investindo em novas abordagens de liderança. Àqueles que entenderem que a geração precisa mais do que apenas conhecimento técnico, atendendo às expectativas desses profissionais, terão uma vantagem competitiva significativa, garantindo inovação, engajamento e crescimento sustentável no mercado.