Como você descreveria a sua atuação em reestruturação de empresas?
Essa é uma área que eu dediquei minha vida profissional, com muita sensibilidade, por entender a importância dessa atuação na trajetória das organizações. Sou advogada, com mais de quinze anos de experiência, dos quais 10 foram dedicados à atuação em processos de contencioso cível e assessoria a clientes nacionais e estrangeiros. Há 9 anos, ingressei na Deloitte e, em 2021, me tornei sócia da prática de T&R. Atualmente, me dedico à assessoria em questões relacionadas à restruturação e wind down de empresas, especialmente recuperações judiciais e falências, além de processos nos mais diversos segmentos, nos quais a Deloitte é nomeada como administradora judicial, por todo o Brasil.
Quais são os principais desafios para as mulheres que atuam no setor?
Os principais desafios para as mulheres que atuam no setor de reestruturação de empresas podem incluir os aspectos que refletem os problemas que encontramos na sociedade, de maneira geral, como desigualdade e dificuldades em conciliar vida profissional e pessoal. Trata-se de um ambiente ainda predominantemente masculino. No entanto, as mulheres têm ganhado mais espaço. Há dez anos, por exemplo, o número de mulheres em destaque nesta área era muito menor do que hoje.
Como o cenário macroeconômico vem impactando esta prática?
O cenário macroeconômico impacta diretamente a prática e movimentos de mercado. Estamos em meio a um cenário que envolve instabilidade econômica, volatilidade nos mercados financeiros, questões sérias relacionadas a políticas governamentais, incertezas globais no âmbito social e ambiental, além, claro, de um movimento muito acelerado que exigirá dos stakeholders necessidade de adaptação rápida às transformações tecnológicas que tem ocorrido no mundo. Saímos recentemente da maior crise sanitária já vivida no mundo, e suas consequências podem ser verificadas na prática de reestruturação de forma latente. A partir de fevereiro, o número de ajuizamentos de recuperações judiciais aumentou substancialmente em relação ao mesmo período do ano passado. Não obstante a Covid, os anos de 2021 e 2022 foram, de fato, anos em que se observou o menor índice de ajuizamentos. Isso pode ser explicado pelos seguintes motivos: iniciativas do poder público nas esferas municipais, estaduais e federais que buscaram, ainda que timidamente, injetar dinheiro na economia; refinanciamento das dívidas pelos credores financeiros; busca por ferramentas alternativas, como acordos e negociações; as próprias incertezas decorrentes da lei (exemplo: dúvida sobre como se comportaria o fisco e jurisprudência em decorrência das alterações).
Quanto ao cenário atual, fato é que, dois anos depois, com níveis de endividamento e alavancagem sem precedentes, indisposição das instituições financeiras em conceder mais créditos ou prazos, taxas de juros também muito altas, o que se observa neste momento é um aumento considerável no número de ajuizamentos de recuperações judiciais e falências. Isso já tem se verificado na prática, inclusive. Se comparados os períodos, em agosto de 2023, se observa um aumento de cerca de 90% em relação ao mesmo período do ano passado*, segundo os dados do Serasa Experian. Fica claro como o cenário macro impacta no mercado em referência.
E quais as suas perspectivas para o próximo ano?
As perspectivas são de que o mercado de reestruturação siga bastante movimentado no próximo ano. A previsão, de acordo as projeções, é que a taxa de juros não tenha uma redução substancial, o que torna o dinheiro muito caro para aqueles que buscam injeção de caixa, capital de giro e eventual renegociação de seus créditos. O apetite dos grandes credores financeiros para reperfilar créditos não parece tão grande como nos anos de pandemia, então é possível que devedores continuem a recorrer aos instrumentos disponibilizados pela Lei para ter suas questões equalizadas. Como dito acima, o número de ajuizamentos de falências, recuperações judiciais e extra sofreu um aumento expressivo em 2023, e a expectativa é que continuem aumentando.
- Corporate & Finance Leading Women – Parte 1: 50ª à 41ª posição
- Corporate & Finance Leading Women – Parte 2: 40ª à 31ª posição
- Corporate & Finance Leading Women – Parte 3: 30ª à 21ª posição
- Corporate & Finance Leading Women – Parte 4: 20ª à 11ª posição
- Corporate & Finance Leading Women – Parte 5: 10ª à 1ª posição