O Brasil registrou 1.426 transações de M&A em 2024, um aumento de 1,9% em relação ao ano anterior. Deste montante, investidores brasileiros representam 82,3% das transações, frente a 17,7% de investidores estrangeiros. É o que mostra o Brazil Transactions Insights – Winter 2025, elaborado pela Kroll.
A retomada de crescimento vem revertendo a série de encolhimento neste setor, que vem sendo observado desde 2021 – em 2022, foi registrada queda de 5,2% em relação ao ano anterior; em 2023, nova queda, de 9,3%. Os setores que impulsionaram esta retomada foram: tecnologia, seguros e financeiro, energia, saúde e alimentos e bebidas.
Algumas das principais transações destacadas no relatório estão a Positivo Tecnologia comprando a Algar Telecom por R$ 235 milhões; compra de 50% do Banco John Deere pelo Bradesco em agosto; acordo de fusão entre as petroleiras Enauta e 3R Petroleum; acordo de criação de uma joint venture 50/50 entre a Amil Participações e a Dasa, resultando na Impar Serviços Hospitalares; compra da Wickbold pelo Grupo Bimbo e outras.
O Decisor Brasil conversou com Alexandre Pierantoni, Managing Director de M&A da Kroll, sobre os resultados do levantamento.
Confira a entrevista:
Segundo o relatório, houve uma predominância de investidores brasileiros nas transações. A quais fatores podemos atribuir este fato?
Investidores brasileiros participaram de mais de 84% das transações realizadas no Brasil em 202. Este número não foi observado antes e a participação de investidores estrangeiros tinha, ema nos anteriores, uma média de 35% (versus 16% em 2024). O mundo se tornou mais incerto e desafiador e há uma tendência natural de investimentos locais (e vemos isto quando, de fato, os Brasileiros dominam os investimentos no Brasil). Além disto, na perspectiva global, o Brasil perdeu atratividade enquanto destino de investimentos e, consequentemente, para atividades de M&A.
Obviamente os ruídos em relação a questões fiscais e de políticas públicas, somados a demais desafios locais e de performance da economia Brasileira, principalmente numa visão de longo prazo, também afetam esta atratividade e nível de operações de M&A. Temos de destacar que questões de taxas de juros e alternativas de investimentos, também afetaram o Mercado de Capitais, um importante agente enquanto acesso a recursos e que também afetaram as atividades de M&A e atratividade do país.
Na sua avaliação, o que foi mais preponderante para retomada do crescimento nas movimentações de M&A após dois anos de queda?
Prefiro analisar patamares de atividade. Em 2024 tivemos 1.426 operações anunciadas, e nos anos anteriores, 1,400 e 1543, respectivamente. O Brasil teve um recorde de 1,627 operações anunciadas em 2021 e este sim um outro patamar, em condições (principalmente em relação a custo de capital e acesso a recursos). O patamar de 1.400–1.500 operações que observamos nos últimos anos refletem a performance estável no mercado brasileiro em termos de investimentos e atratividade do país, a investidores nacionais e estrangeiros. Importante destacar que as atividades de M&A no Brasil tem um perfil multisetorial e multirregional e isto permite esta estabilidade de transações.
Quais são as perspectivas para 2025?
Entendo que temos dois panoramas: mundo e Brasil. Enquanto no mundo já observamos um aumento de atividades de M&A, principalmente nos EUA e ainda independente dos desafios globais (movimentações geopolíticas, políticas comerciais e quedas de taxas de juros – estas influenciando positivamente as atividades de M&A em operações alavancadas), no Brasil víssemos, novamente, um ambiente desafiador. Estamos em um ciclo de aumento de taxas de juros e custo de capital (afetando potencialmente, diretamente, as atividades do Mercado de Capitais e de M&A) e predomina um cenário desafiador já conhecido em diversos ângulos, e adicionam-se em 2025 mais incertezas. Há com certeza oportunidades específicas e neste ângulo pode ser positivo para determinados setores (por exemplo Energia) e situações. Ainda direcionados pelo investidor Brasileiro, que poderá aproveitar oportunidades, nos mais diversos setores, para consolidar ou expandir operações, ou ainda complementar portfolio de produtos ou serviços, podemos ter um ambiente positivo para atividades de M&A, o que entendo pode gerar a manutenção do patamar de operações anunciadas.