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Negócios & Transações

‘Estamos preparados para o futuro’

Em entrevista ao Decisor Brasil, David Gibbin, CEO da Investtools, falou sobre a estrutura da empresa, o crescimento e fortalecimento das fintechs no Brasil e as mudanças ocasionadas pela CVM 175 para o mercado de investimentos e fintechs

Com o notável crescimento e consolidação das fintechs no mercado brasileiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apresentou a recente Resolução 175, que introduz alterações significativas tanto para o mercado de fundos de investimentos quanto para as próprias fintechs no país.

Em uma entrevista exclusiva concedida ao Decisor Brasil, David Gibbin, CEO da Investtools, uma fintech especializada em blockchain e tokenização, compartilhou suas perspectivas sobre as mudanças trazidas pela CVM 175, o crescimento das fintechs e a estrutura da companhia.

Confira a entrevista completa

Como é feita a operação da Investtools? E como vocês estão estruturados?

A Investtools é uma empresa que desenvolve soluções para o mercado financeiro. Possuímos um braço que desenvolve soluções de blockchain e tokenização, mas o nosso principal é um software para gestão de fundos de investimentos. Cuidamos de toda a jornada dos fundos de investimentos, a parte de cálculo de cota, cálculo de taxas, performance do fundo, cálculo de estratégias, enquadramento do fundo legal quanto a CVM, Anbima e Receita Federal.

Além de oferecermos uma análise de risco de carteira para o controle de investidores voltado para prevenção à lavagem de dinheiro e suitability, uma solução completa tanto para a gestora, quanto para o administrador. Hoje estamos muito focados no mercado B2B, atendendo tanto gestores, quanto administradores de fundos, families e wealth.

Recentemente estamos vendo o crescimento do mercado de fintechs no Brasil e no mundo. Como vocês veem isso e como o mercado está reagindo?

É interessante observar esse amadurecimento do mercado financeiro. Na realidade, somos um spinoff de 2015, mas a empresa já existe há pelo menos 10 anos, então acompanhamos esse crescimento das fintechs.

Quando fundamos a empresa, o mercado falava de atingir um milhão de investidores e de uma hora para outra vimos passar para quatro milhões de uma forma muito rápida e com diversas oportunidades. Muito desse crescimento foi possibilitado pela tecnologia, então as fintechs tiveram um papel muito importante nessa escalada, a tecnologia permite você escalar e trazer mais investidores.

Antigamente, quando começamos o nosso produto, os nossos clientes faziam a gestão de fundos somente para a alta renda, por se tratar de algo muito difícil para uma pessoa que possuía de R$10 a R$20 mil para acessar o mercado financeiro, já que era um mercado que exigia soluções complexas e por isso eles sempre acabavam jogando na alta renda.

Uma vez que a gente viu a tecnologia ganhando força no mercado, percebemos que antes brigávamos falando que eles tinham que usar nossos sistemas, não Excel, pois eles estavam acostumados com um negócio em baixa escala, então o atendimento era muito high touch, mas agora com a  tecnologia a gente possibilitou um crescimento do mercado para outras frentes.

Nós começamos a falar do Drex, observamos mudanças como o open finance, então a partir disso podemos ver que essa frente vai crescer muito. A tecnologia ainda vai possibilitar trazer mais gente para o mercado de capitais, que é um dos impulsionadores do país, e é muito interessante saber que a tecnologia é o meio que vai conseguir atrair mais pessoas para esse mercado.

Como o mercado financeiro está reagindo a esse crescimento e a entrada das fintechs e tecnologias?

Em um primeiro momento, todo mundo vê com bastante euforia tudo isso, temos até a curva de adoção de tecnologia, que no começo observamos todos ficando muito empolgados, achando que vamos ter uma subida da curva muito rápida,  depois o pessoal acaba percebendo a realidade quando passa um pouco da primeira euforia, entretanto no final tudo vai acontecendo naturalmente e as pessoas vão adotando .

Então existem alguns players que acabam tendo um pouco de resistência em mudar o processo, mas é algo que não tem mais como ser parado, pois essas mudanças já estão acontecendo. Tivemos a regulação da indústria de fundos através da CVM 175 com a 184, que a partir dela fica praticamente impossível conseguir se adaptar a ela sem utilizar uma solução tecnológica.

Obviamente as soluções poderão ser desenvolvidas dentro de casa, mas é um investimento muito grande, então as empresas especializadas como a gente, que entregam soluções que resolvem as dores específicas do mercado, vão conseguir fazer essa entrega com escala, de forma mais fácil e atendendo uma carteira grande de clientes.

Desde o cliente, quanto o fornecedor, vão ficar felizes vendo o mercado crescer, já que acaba gerando dinheiro para todo mundo. Então, ainda temos alguns pontos de resistência, mas com o tempo todo mundo vai se convencer e perceber que é a melhor escolha

Quais são as principais mudanças que a CVM 175 traz para o mercado de investimentos e para as fintechs?

Foram muitas mudanças, mas a principal acaba sendo a divisão da responsabilidade, que antes ficava muito na mão do administrador com o gestor, por isso, para a gente está sendo muito positivo, pois estamos vendo muitos gestores que antes resistiam um pouco ao sistema ou acabavam confiando muito nos processos e na gestão do administrador, que era o responsável legal por isso, recebendo essa responsabilidade, que é uma primeira mudança que vem e acaba fomentando o uso de sistemas.

Outra grande mudança é estrutural, com essa mudança de classes e subclasses, você acaba mudando a indústria no Brasil, deixando ela mais moderna e com a cara de como os fundos rodam fora do Brasil, então você fica mais aderente ao modelo global. Para nós isso é muito interessante, pois faz uma mudança de mercado e tira os players estabelecidos, porque todo mundo vai ter que fazer mudanças estruturais e sistemas novos, e quem está chegando como a gente, que já tem soluções novas e modernas, acabam conseguindo surfar.

Essa conversão tecnológica vai ser bastante dolorosa, porque mesmo o mercado financeiro brasileiro sendo bastante tecnológico, ele tem soluções que ainda são muito antigas e que vão ter que se adaptar para esse novo modelo de arquitetura do mercado.

É uma mudança que muita gente acaba não enxergando que custa caro e que vai passar por uma curva de crescimento bem alongada, tanto que os players chegaram a pedir o adiamento da entrada da regulação exatamente por isso, porque eles viram a dificuldade de realizar as mudanças nesse curto tempo.

De forma geral, é uma regulação benéfica, que vai trazer uma dor de crescimento no mercado, mas vai baixar os custos e trazer mais investidores, são dores que vão ser recompensadas no final.

O que podemos esperar da Investtools nos próximos 12 meses?

Algo que é muito interessante é que somos um sistema que sempre investiu bastante em tecnologia em formato de uma arquitetura moderna, então nosso sistema já foi preparado desde o início para trabalhar em uma estrutura de multimoedas e offshore, então além de atender o mercado local, conseguimos atender fundos e gestores que fazem offshore aqui no Brasil

Como consequência, nós já estávamos adaptados para muitas das questões que o mercado internacional pedia, que é mais ou menos o que a regulação está fazendo. Então nos próximos meses vamos ter um produto voltado para o mercado de FIDC.

Então, basicamente, hoje a gente é a única plataforma que entrega essa solução para os gestores de FIDC, com isso nos próximos 12 meses vemos com bons olhos conseguir crescer pela procura que o mercado está tendo cada vez mais por soluções tecnológicas. Estamos preparados para o futuro.