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Disputas

'O mundo da Política sempre apresentou pouca empatia com as mulheres'

Vania Aieta é coordenadora-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), que promove seu 2ª Congresso Nacional de Mulheres nesta sexta-feira (15), em Brasília. Em entrevista ao Decisor Brasil, ela fala sobre os desafios e as perspectivas da participação das mulheres na política em um cenário de predominância masculina nas estruturas partidárias.

Quais são os principais desafios para mulheres que atuam na prática de Direito Eleitoral e Político?

O mundo da Política é muito masculinizado. Sempre apresentou muito pouca empatia com as mulheres. As mulheres sempre foram vistas como tarefeiras, coadjuvantes, ou infantilizadas como objeto de adorno. As grandes players, as mulheres profissionais, as self-service made women são vistas com cautela e reserva, como estranhas não confiáveis no “Clube do Bolinha”. Já soube de dirigente partidário dizer: “não fico à vontade com elas, não consigo falar certos assuntos com elas”. Como se as mulheres fossem de um mundo à parte.

Como você avalia o atual cenário da participação das mulheres na política, em especial nas esferas municipais?

Muito ruim, sobretudo pela questão do financiamento. O atual modelo, para alguns chamado falaciosamente de democrático, gerou oligopólios violentos nas Executivas Nacionais das agremiações partidárias, de modo que só recebe recursos quem for apadrinhado da direção nacional. Como a grande parte das fontes privadas hoje é vedada, e as campanhas demandam de serviços profissionalizados que não podem ser usados por valor estimado, o quadro é caótico.

Como o atual modelo de financiamento de campanha interfere na capacidade das mulheres de concorrerem a cargos eletivos?

Como já disse. O modelo de financiamento é o nosso grande vilão. Em razão dele estamos a mercê de “novos imperadores”, que são os dirigentes, com direito de vida e de morte política em relação aos quadros partidários, destruindo talentos e fomentando políticos servis e esvaziados de crítica sadia para a qualificação da democracia em nível interno.

Quais são os principais desafios para garantir o cumprimento da representação feminina nas candidaturas conforme exigido pela legislação eleitoral?

Reserva de cadeiras é o ideal. Mas por ora muita fiscalização,  transparência,  controle e mais democracia interna nos partidos políticos.

E qual a sua perspectiva sobre a participação feminina nas eleições municipais deste ano?

Tenho esperança, mas também os pés no chão. Creio que o nosso grande avanço que tivemos foi o assentamento conceitual e normativo da violência política de gênero.