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'O segmento de Transaction Services é ainda prioritariamente composto por homens'

Cristiane Delage é sócia da Ceres Inteligência Financeira. Sua atuação em Transaction Services a levou à 15ª posição na lista Corporate & Finance Leading Woman. Na entrevista, ela aborda a diversidade de gênero no setor e faz uma análise dos investimentos públicos e privados na esfera federal e nos governos estaduais.

Como descreveria a sua atuação em na prática de Transaction Services?

Minha atuação é bastante estratégica. Atuo diretamente na prospecção de projetos e clientes e no desenvolvimento de novas oportunidades, que irão resultar em trabalhos de consultoria, inclusive na área  de Transaction Services. Todas as tratativas da prospecção, envolvendo a identificação do negócio, mapeamento das necessidades do cliente, negociações para o fechamento do contrato, estão sob minha responsabilidade atualmente aqui na Ceres, é claro que em conjunto com toda a nossa equipe, pois valorizamos muito o espírito colaborativo. Além disso, quando fechamos um novo contrato, atuo no dia-a-dia, fazendo a gestão do projeto e assessorando de perto o cliente em todas as etapas do trabalho, com o objeto de manter o nível de excelência nos resultados que entregamos.

Quais são os principais desafios para as mulheres que atuam neste segmento?

Apesar de toda a evolução pelo qual o mundo corporativo e a sociedade em geral tem passado nos últimos anos, o segmento de Transaction Services é ainda prioritariamente composto por homens. Sob o meu ponto de vista, o principal desafio não é somente ampliar a presença feminina neste mercado, mas fazer com que o público feminino esteja de fato presente nas decisões e consiga ter uma participação mais autônoma e efetiva na condução dos trabalhos. Na Ceres, tenho orgulho de ser reconhecida e respeitada como sócia e de fato exerço meu trabalho com muita liberdade, participando ativamente das decisões da empresa, porém acredito que ainda faço parte de um seleto grupo, pois esta não é a realidade da maioria das mulheres que atuam neste segmento.

Qual a sua avaliação da atual conjuntura em relação ao cenário de transações envolvendo o setor público?

O mercado passa por uma carência de ofertas públicas (IPOs) envolvendo o setor privado. Isso se dá pela queda de expectativas de crescimento a longo prazo, devido a um cenário mais pessimista e de juros ainda elevados no mercado internacional e internamente. Adicionalmente o Governo Federal atual não tem se inclinado às privatizações, embora apoie concessões comuns e PPPs para ampliar os investimentos em desenvolvimento no país, especialmente os voltados para as regiões Norte e Nordeste, que possuem maior base eleitoral para suas candidaturas futuras.

Adicionalmente, as privatizações estaduais, especialmente as ligadas as vendas de ações de controle das empresas de capital aberto, na modalidade “Corporation” podem ser ampliadas, como em estados mais oposicionistas ao Governo Federal como Minas Gerais, São Paulo e outros da Região Sul.

Acredito que esses serão os dois eixos principais de investimentos privados, envolvendo o setor público. Destacam-se as áreas de concessão e PPPs de saneamento e resíduos sólidos e de empresas de utilities nas privatizações estaduais.

E quais são as perspectivas do setor para o próximo ano?

Um grande ponto a destacar é a reforma tributária, pois observa-se que afetará setores de forma diferenciada e isso impacta na expectativa de geração de caixa das empresas e negócios envolvidos. Também podem receber maior atenção setores/negócios que estimulem a energia limpa ou adquiram certo selo verde.

No segmento público de concessões e PPPs, em função do Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico, prevendo a universalização dos serviços e as metas previstas no Planares (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), terão destaques as concessões estaduais e consorciadas por municípios, dados os prazos mais curtos para seu alcance e execução, além dos compromissos previstos para as eleições municipais em 2024. Também existem leilões de transmissão programados para mitigar os problemas de escoamento e aumento da capacidade do sistema, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, com expectativa de realização em março/24 e de receber investimentos próximos a 20 bilhões.

No setor privado, é esperada a volta dos IPOs, bastante adiados, com a redução prevista, ainda que modesta, dos juros. Transações em setores consolidados, e que ganharam nesses últimos anos podem ocorrer, como no setor de mineração, buscando investimentos ou aquisições relacionadas aos minerais estratégicos, ou no setor de alimentos, que promovam ganhos na verticalização ou de sinergia. Aquisições em outros setores podem também ocorrer com vistas a melhor adequação das margens e de escala.

Por último espera-se o olhar atento das empresas à inovação, mas também em tecnologia e controle de riscos. O crescente uso da IA deve ser uma ferramenta de apoio nessa orientação.